Durante os encontros da Corpo Crítico, edição 2022, nos reunimos para assistir aos Bardos, do sonho e da vida e, a partir deles, fabricamos perguntas. Os dois filmes realizados por Leticia Batista foram concebidos para ocuparem o mesmo espaço, numa projeção cruzada que situava um diante do outro, partilhando uma mesma faixa sonora. Assistimos cada um em um dia de oficina e riscamos para eles algumas interrogações, modos de interpelar os filmes nas suas formas de respiração. Estão reunidas neste texto, após uma leitura e edição coletivas, as indagações que aqui seguem. Participaram da oficina: Clara Bambirra, Catharine Borges, Iara Letícia, Marcela Lins, Pedro Antuña, Luca Ramalho, Renan Eduardo, Ingá Patriota e Fabio Rodrigues.
É fogo? No mar? / Cadê o luar? / Apenas de dia se passa a luz? / Mudam-se as estações? / Há impermanência na permanência de durar em um só lugar? / E se a luz do sol apagar? / E se eu seguisse as nuvens? / De onde vem as estrelas do mar? Do céu do mar? / Para onde o mar recua? / Em qual constelação o filme se encontra? / Respiro as estrelas? / A imagem aquece? / E se o mar pegar fogo? E se?
Filme é foto que corre? Foto é filme que dura estático? / Quem voa? quem passa?
A espuma do mar tem a mesma matéria das nuvens? / Respinga na tela? / Dá pra coexistir? / Queimada? coabitar? / Em que tempo o sonho opera? / O tempo passa mais rápido em horário comercial? / O sol do sonho também queima? / O “nonsense” provindo desse idílico viver descortina o universo íntimo?
Por que a vida é sonho? / O mar está pegando fogo? Um filme se desintegrando pelo salitre do mar? / O mar é a vida? A praia de uma sessão de cinema. / Por que só vemos as silhuetas das pessoas? / Aqui a água sonha? / Um filme formado por chuva, fogo, céu e mar?
Por que o ruído na imagem? / O ruído se relaciona com o rastro? / A cadência da respiração se relaciona com a cadência do mar? / Por que o filme acaba? / Como o tempo da natureza é traduzido? Ele é traduzido ou transfigurado? / O que são esses rastros?
Como ela consegue voar? / Por que ela pula e por que se repete, repete, repete, vive e morre, vira tantas outras? / Como pode o rastro da queda já existir antes do primeiro salto? / Como podem vulto e concreto se confundirem? / Por que a personagem cai? / Onde ela está? / Como é essa queda? / Por que são diferentes formas de cair? / Cair ou se jogar? / Se lançar a algo? / Essa repetição sugere um ciclo? / Ciclo de quê? / Da vida? / Por que esses ciclos não se repetem? / Ou melhor, por que são diferentes? / O que ou por que esta escada? / Como se lançar para algo ou alguma coisa? / Por que a escolha de tornar os movimentos rastros? / Pode-se pensar que há uma relação com o mito de Sísifo? / Por que os últimos quadros mantêm todos os rastros? / Qual é a relação da cadência do movimento com a cadência da respiração? / A queda se transforma? / Se torna mais intensa? / Quantas quedas são necessárias? / A respiração é um mantra? Os filmes juntos formam um mantra? / Como um filme respira? / A vida é feita de pequenos saltos de fé? / Na circularidade transitória do viver os ciclos? / Na circulação do sangue. / Cair para se levantar e sentir-se vivo? / Entender que não importa como se cai e sim se levantamos? / Do que é feita a arte do salto?
Repetir é um dom do estilo? / Como lidar com o concreto das sombras e o opaco do corpo? / O concreto salta?/ Se sim, por que o muro não cai? / Saltar é cair? / Aprender a cair? / Aprender é cair? / Aprender é saltar? / Aprender a teimosia. / Desaprender a repetição?
Uma mulher, uma escada, saltos, borrões de luz e nitidez, sombra. Que possíveis sensações podemos ter a partir dos elementos imagéticos-sensoriais e dos signos (elementos de representação) nele presentes?
É um filme ou uma foto? / Depois de projetadas e vistas as imagens deixam de existir?/ Como um corpo se descola, se perde e se encontra novamente? / Os rastros da imagem e do corpo são os mesmos? / Como a queda nos alcança?/ Quais formas geométricas o filme desenha?
O que sugere o corpo dela em repetição? / Por que o filme acaba quando acaba? / Quando cair inspira a subir? / Quando subir consiste em cair?
O preto e o branco são tons de uma mesma cor? / Onde a respiração encontra o umbigo? / Por que a personagem cai? / Como é essa queda? / Por que são diferentes formas de cair? / Cair ou se jogar? / Se lançar a algo?
Essa repetição sugere um ciclo? / Ciclo de quê? Da vida? / Por que esses ciclos não se repetem? / Ou melhor, por que são diferentes?/ O que ou por que esta escada? /Como se lançar para algo ou alguma coisa?
Como ela consegue voar?
Por que ela pula? E por que se repete
O filme acaba?
Bagunça a geometria?
Importa como se cai?
Este texto foi produzido como parte da oficina Corpo Crítico 2022 – Um Braseiro: "Quando um muro separa, uma ponte une", ministrada por Ingá Patriota e Fabio Rodrigues Filho, durante o 24º FestCurtasBH.
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