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.[2022]/5º corpo crítico    

por: Ingá e Fábio Rodrigues Filho

dias: 17, 18, 20 e 21 de Outubro

horário: 10h às 12h30

local: Sala Juvenal Dias - Palácio das Artes

carga horária: 10 horas

vagas: 10

.um braseiro: "quando um muro separa, uma ponte une"    

Um braseiro

“A luta é contínua e contígua”, diz o vídeo sobre Helenira Resende realizado por ocasião da Comissão Nacional da Verdade em São Paulo no ano de 2013. Por essa mesma via, em livro biográfico sobre Helenira, Bruno Ribeiro escreve: “a história não termina com a morte de nossa personagem”, reunindo assim as poucas e dispersas fontes que ajudam a contar sobre a vida desta militante, guerrilheira, mulher negra, estudante de letras e liderança estudantil brutalmente assassinada pela ditadura militar, sem que até hoje tenham sido encontrados seus restos mortais – “a tua morte não foi em vão (...). E haverá sempre um Araguaia florescendo em cada coração rebelde”, conclui Ribeiro. Como muitas, militava não só combatendo a ditadura militar, mas colocando em circulação uma imaginação política capaz de nos fazer pensar sobre outras formas de o que seria uma vida democrática. Carregou sonhos comunitários nas retinas e na voz. Falava aos companheiros sobre o ofício que um dia seria seu – “quando a revolução triunfasse” –, alinhando no corpo as palavras de João Amazonas para descrevê-la, “Imaginem vocês, pensando em crítica de arte estando lá no Araguaia de arma em punho para enfrentar o inimigo”.

Nesta edição da Corpo Crítico, buscamos dar consistência para uma práxis de envolvimento político e corporal tanto com as imagens quanto com a palavra. O corpo crítico, termo que guia nossos encontros, se vincula ao momento em que retomamos um corpo a corpo público com as sessões de cinema, nos abrindo para experimentar inclusive as possibilidades físicas do exercício crítico com os filmes. Livremente inspiradas pela história vivida e sonhada por Helenira Resende em meio à floresta do Araguaia, propomos esta oficina como um laboratório de tomada da palavra como corpos em combate. Ser crítica de arte = ser ponte frente aos muros. Sua memória será convocada. A memória da menina que, ainda secundarista, defendia propostas para a comunidade numa rádio municipal de Assis (SP) e se deslocava para a cidade de Santos na tarefa de distribuir o jornal A Classe Operária para o qual passava noites a fio escrevendo artigos. Convocada como inspiração libertária, figura e fonte de nossos dias de encontro e como, antes de mais nada, um corpo crítico em vida.

Desde este presente em que nos encontramos, tendo o país constantemente destruído pela indiferença social que toma o poder e vira política de governo, aprofundando ainda mais nossas desigualdades fundantes, gostaríamos não só de propor este recuo à história de Helenira, rememorando sua trajetória na luta, mas também e sobretudo evocando seu sonho de prática estético-política jamais adormecido. Sonhava com a justiça como sonhava com a crítica. Helenira segue como exemplo vivo para as lutas: o futuro de justiça social, empenhado na sua dignidade em riste e nas ações de combate em grupo, virá pela continuidade – futuro este que faz o passado ressoar no presente, conferindo-lhe sentido e coragem: a única luta que se perde é aquela que se abandona.

Permeado por práticas de conversas em diferentes suportes, correspondências, diários, textos coletivos, panfletos, ensaios, relatórios de debates e de sessões, bem como escritas experimentais e insuspeitas formas de contágio com os filmes, este laboratório tem por intuito experimentar a crítica como ponte e cena política, de modo que a forma dos encontros ativará dispositivos diversos (exegese de textos, passeios, intervenções, etc.) articulando a relação imagem-cidade-corpo-palavra. Os quatro encontros que compõem o Corpo Crítico se darão na forma de ateliê de imaginação, visionamentos, debates e escritas. Propomos, assim, que os textos enquanto pontes sejam também motivos para outras conversas durante o festival, de modo que a circulação e a distribuição ocorrerão ao longo do evento. Conta-se que, na escuridão da noite amazônica, Helenira cantava junto aos companheiros a canção Pesadelo: “Quando um muro separa, uma ponte une. (...) E se a força é tua, ela um dia é nossa…”

Referência:

RIBEIRO, Bruno. Helenira Resende e a guerrilha do Araguaia. 1. ed. - São Paulo: Expressão Popular, 2007. 96p.

.resumo    

Imaginem vocês, uma mulher, no meio de uma guerra, lutando pela democracia e sonhando também em ser crítica de arte. Imaginem ainda, na escuridão da noite amazônica, ela entoando junto aos companheiros uma canção: “Quando um muro separa, uma ponte une”, e prosseguindo “... se a força é tua, ela um dia é nossa”. Por fim, imaginemos tomar esta práxis e sonho revolucionário como motivo para uma oficina de crítica de cinema. Como fazê-lo? Nosso chamado, primeiro, é para imaginarmos essa comunidade forjada sobre e a partir de filmes, tendo como força motriz, um guia, a trajetória de Helenira Resende – esta sobre quem é um dever saber e necessário imaginá-la. Esta edição da Corpo Crítico, termo que guia nossos encontros, vincula-se ao momento em que retomamos um corpo a corpo público com as sessões de cinema, tal circunstância nos abrirá para experimentar as possibilidades físicas de exercícios críticos com os filmes. Permeadas por práticas de conversas em diferentes suportes – correspondências, diários, textos coletivos, panfletos, ensaios, relatórios de debates e de sessões –, bem como escritas experimentais e insuspeitas formas de contágio com os filmes, este ateliê tem por intuito experimentar a crítica como ponte e cena política, de modo que a forma dos encontros ativará dispositivos diversos (exegese de textos, passeio nas ruas, intervenções, etc.) articulando a relação imagem-cidade-corpo-palavra. A oficina acontecerá em quatro encontros, nos dias 17, 18, 20 e 21 de outubro de 2022, sempre das 10h às 12h30, presencialmente. Propomos, assim, que os textos enquanto pontes sejam também motivos para outras conversas durante o festival, de modo que a escrita, circulação e a distribuição ocorrerão ao longo dos 10 dias do FestCurtasBH.

.programa dos encontros    

Encontro 1. Seria a crítica um ateliê para construção de pontes?

Como maquinar um modo experimental de relação com as obras sem se deixar embriagar por um deleite pessoal que se sobreponha à relação? Correr perigo com as obras, com aquilo que elas inventam, mas, para isso, algumas armas: forjar uma metodologia de ponte. A ponte entre as escolhas de um filme e aquela que atravessa o texto, entre as imagens que tomam a sala e o tempo histórico que dá luz a elas.

Referência:

BERNARDET, Jean-Claude. Por uma crítica ficcional. In: forumdoc.bh.2003: 7º Festival do filme documentário e etnográfico – fórum de antropologia, cinema e vídeo. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2003. p. 66-70.

Disponível em: https://www.forumdoc.org.br/ensaios/por-uma-critica-ficcional

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Encontro 2. O encontro marcado de um filme com seu tempo

Imaginar a crítica como uma praça, um largo ou uma esquina na qual uma obra esbarra com os anseios, as paisagens e as feições de sua época. Nesse encontro exercitaremos a ética de integrar uma obra ao momento cultural em que ela vive, entregando ao trabalho crítico sinais de seu tempo. Tornar baixo o que era alto: uma encruzilhada no centro da cidade ao meio-dia, o pinga-pinga da nascente do rio Amazonas chegando no seu igarapé. Onde será o encontro de um filme com seu tempo histórico? Na inadequação, na correspondência, no desvio sorrateiro? 

 

Referência:

CANDIDO, Antonio. Notas de crítica literária: Overture. Jornal Folha da Manhã. São Paulo, 07 jan. 1943. 5.

Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ls/article/view/19613/21676

CESAR, Amaranta. O tempo é luta. In: Catálogo do CachoeiraDoc 2017. 

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Encontro 3. Achar-se em comunidade

Estamos diante da memória de Helenira menina que, ainda secundarista, defendia propostas comunitárias numa rádio municipal de Assis (SP) e se deslocava para a cidade de Santos com a tarefa de distribuir o jornal A Classe Operária para o qual passava noites a fio escrevendo artigos. Os filmes, assim como a maneira de navegá-los, inventam territórios de partilha. Entre arguição jurídica e inscrição poética, poderia a crítica instigar arenas do debate de uma comunidade de cinema? Poderia ela, por meio da arena, empurrar essa comunidade até seus limites, seu ponto de mudança?

 

Referência:

GUIMARÃES, César. O que é uma comunidade de cinema?. Revista Eco-Pós, 18(1), 45–56.

Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/1955

 

ALMEIDA, Carol. Contra a velha cinefilia: Uma perspectiva feminista de filiação ao cinema. Publicado no site Fora de Quadro, setembro de 2017.

Disponível em: https://foradequadro.com/2017/09/19/contra-a-velha-cinefilia-uma-perspectiva-feminista-de-filiacao-ao-cinema/

 

RIBEIRO, Bruno. Helenira Resende e a guerrilha do Araguaia. 1. ed. - São Paulo: Expressão Popular, 2007. 96p. 

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Encontro 4. Assembleia

Momento teatral, reflexivo e deliberativo acerca do cinema no Brasil, da crítica, da política e da própria oficina. Informes, escolhas de questões pertinentes, debate e encaminhamentos. Sonhos de justiça e de escrita.

.ministrantes    

Ingá é educadora popular e crítica cultural. Facilitou formações em audiovisual em projetos como “Fazer o mundo, fazendo vídeo”, “Inventar com a Diferença” e “Vídeo nas Aldeias”. Ministrou oficinas de crítica em parceria com o CachoeiraDoc, Instituto Moreira Salles e o Festival de Curtas-metragens de Belo Horizonte. Tem artigos publicados em revistas de crítica cinematográfica como a Verberenas, Fronteira Festival de Cinema, no portal do Janela Internacional de Cinema do Recife e na revista Cinética.

Fabio Rodrigues Filho trabalha na crítica, pesquisa e realização em cinema. Doutorando em Comunicação na UFMG, é mestre pela mesma Universidade e graduou-se na UFRB, em Cachoeira (BA). Realizador dos filmes Tudo que é apertado rasga (2019) e Não vim no mundo para ser pedra (2022). Participou das comissões de seleção de festivais, mostras e laboratórios, a exemplo do FestCurtas BH (2019 a 2022), Goiânia Mostra Curtas (2022), FIANb (2020 e 2021), Diáspora Lab (2018) e CachoeiraDoc (2020), festival junto ao qual contribuiu ao longo dos últimos anos. Atua como cineclubista, cartazista e colabora com textos para diversos sites.

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